O ser humano é engraçado. Na verdade, não sei se engraçado é a palavra certa, mas tudo bem.
É impressionante como nos julgamos fortes, independentes, auto suficientes e espertos. O engraçado (eu particularmente acho muito engraçado) é como tudo isso vem abaixo quando pequenas coisas e até pequenas palavras nos atingem. E o engraçado (já deu pra perceber que 'engraçada' é a palavra de hoje?) é que nos deixamos atingir até por pequenas palavras, e olhe que, palavras não são coisas em que devemos confiar. Primeiro porque não se trata de uma 'coisa'. Bom, o que eu quero dizer é que, palavras o vento leva, a gente esquece, às vezes tem dois ou mais significados e às vezes... São apenas palavras. Muitas vezes achamos que somos capazes de ganhar o mundo, mas no primeiro obstáculo, na primeira provação pensamos: "Não dá. Deixa pra lá".
Eu conheço a história de uma menina que acordou um dia se perguntando se aguentaria levar o mundo nas costas, caso precisasse. Se existissem tantas as obrigações, tanta responsabilidade, e se muitos esperassem dela todas as decisões do mundo. Ela conseguiria? Depois de muito pensar chegou a conclusão de que não. De maneira nenhuma conseguiria levar o mundo nas costas. Não mesmo.
Ela saiu da cama ao ouvir o choro de fome do seu irmão mais novo e foi até a cozinha preparar-lhe o mingau. Sua mãe trabalhava numa casa do outro lado da cidade e ela sozinha cuidava da casa, do pai doente, cozinhava, lavava roupa para as vizinhas em troca de alguns poucos trocados, estudava e cuidava dos três irmãos com uma paciência infinita, que poucas mães tem. Enquanto as outras meninas brincavam na rua, ela tinha que ficar em casa. Mas no fundo ela não se importava. Cansada, muitas vezes se entristecia, mas continuava a sua jornada diária. Ela perdeu a conta de quantas vezes teve que respirar fundo para não desabar, e quantas vezes mais achou que não ia conseguir, pensou em abrir mão de tudo. Mas, a necessidade falou mais forte. O amor que ela sentia por sua família falava mais forte. Naquele mesmo dia após alimentar seus irmãos, deu remédio ao seu pai e deixou algo pronto para sua mãe que chegaria tarde do trabalho e, com certeza, com muita fome. Algum tempo depois andou por todos os cômodos da casa, que naquele momento, tarde da noite, estavam silenciosos. Todos dormiam, a casa dormia, o vento dormia. Ao pensar no seu dia e em tudo o que fizera ela se deu conta de que mesmo sem perceber e sem duvidar de si mesma, ela levava o mundo nas costas. Ela sorriu. Sorriu porque achou isso muito engraçado!